Bebé, a mãe vai jantar fora.

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Querida filha. Adiei este momento. Sei que o amor que me sentes, de pele, é maior que tudo. Precisas do meu peito para comer, beber, adormecer, acalmar. Nunca um filho meu amou tanto este lugar. Ou então só agora percebi a grandeza deste lugar. Nasceste sem saber sugar, o primeiro leite foi à seringa. Nem sabias como o engolir. Eras pequena. Tive de aceitar que te dessem suplemento para não seres picada. E fiquei tão triste.
Mas assim que percebeste que era ali que se tratavam quase a todas as tuas necessidades, não mais largaste. Prendes-me a ti e eu deixo. Já deixei louça por lavar, horas voar, os manos por brincar, o cão por passear, passeios por dar, festas por dançar… Nunca me senti “abdicar” de algo por ti. Se vou vens comigo, se não, fico contigo. Tranquilo.
Quando sentes confusão imploras pelo mimo. Quase sempre deixo. É ali que te sentes bem. E se não deixo é porque não posso.
Nunca pensei amar amamentar. Depois de uma experiência “mais ou menos”, estudei muito para conseguir escrever um livro. O segundo foi ótimo. Contigo ainda melhor.
Talvez me tenha tornado fundamentalista, teimosa, até casmurra. (Comigo, não com as outras.) Deixei de ouvir que o meu leite é fraco, que me prendes, que perco a independência, que não posso ir a lado nenhum. Passei a viver contigo pendurada, amada, confortada.
“- Mas deixas ela fazer de xuxa?” Deixo-te fazer o que quiseres.

– “Mas está a mamar outra vez?” Sim. Pode ter fome, sede ou mimo. Quero lá saber o quê. Se quer, precisa. 
As noites não dou por elas, os dias passam-se bem. É prático.
Tenho febre nas subidas do leite, dores horríveis. Não me agarro a esse momento. Penso à frente.
Sei que passado aquele tempo nada dói, nada custa e tudo está esterilizado. Sei que emagreço e que poupo uma pipa em leites. Sei que ficas mais forte e com mais imunidade. Tudo isso pesa mas há só uma verdade. Nunca pensei amar amamentar.
De filho para filho a paixão foi crescendo. Ler, saber o que fazer, ser forte, pedir ajuda. Estes foram os meus truques. Cheguei à terceira e não tenho prazo para terminar. Até quereres, meu amor. Não tenho horas, nem tempos, nem nada com horas contadas. Não tenho relógio, nem calendário. É quando e até quereres, meu amor.
Vamos passar o primeiro teste em breve.
Querida, as minhas duas melhores amigas, gémeas, fazem anos. Vou sair de casa depois de estares bem. Alimentada e a dormir. Vou deixar aquilo que gostas para o caso de me atrasar. E um telefone colado. Em minutos estou aqui. Em princípio não será preciso, mas no caso de, há leite “do nosso” no frigorífico…
Não será igual bebé. E não será já definitivo. Vou num instante e volto. De corpo e alma. Mas, um dia chegará, em que me trocas. Em que o regresso ao trabalho me obriga a doses extra de amor de outra forma. Estou já a treinar esse momento.
E quando voltarmos a estar juntas, querida bebé, será igual. Tu e eu. E esta ligação gigante que criámos. Como criam todas as mães e todos os bebés. De uma forma ou de outra. É sempre amor.

12 thoughts on “Bebé, a mãe vai jantar fora.

  • Linnnnddoooooo!!! Rita, este testemunho vai pôr muitas mães a amamentar! Obrigada! Esta bomba é de extração dupla?? Está contente?
    Mts bjs e parabéns por este texto. Amei e comovi-me!

  • olá Rita,que post bonito :)tenho a minha (primeira)cria com dois meses e ainda estou em casa 100% disponível para ela mas vou ter de regressar ao trabalho aos seus 5 meses.queria guardar leite mas nem sei por onde começar…ela mama dos dois lados e quando tiro a seguir com a bomba não sai praticamente nada…alguém que possa partilhar a sua experiência?

    • Olá. Eu comecei a trabalhar aos 4,5 meses e conseguir amamentar em exclusivo até aos 6 meses.
      Se calhar fui um pouco tonta ao inicio, como parecia que não me saía nada com a bomba, tentei por o despertador um dia a meio da noite para fazer uma tentativa e consegui! Como a minha bebé dormia durante a noite, a meio da noite tinha leite suficiente. Fiz essa "maluqueira" durante umas 3 noites, para conseguir algum stock inicial. Depois quando comecei a trabalhar interrompia o trabalho por duas vezes para ir tirar leite e assim tinha sempre leite de um dia para o outro. Não sei se a solução é prática para si, mas no meu caso deu resultado e não estou arrependida 🙂

  • Como a compreendo!!! Vou na segunda experiência, muito mais positiva que a primeira, por aprender a confiar mais no meu instinto… Não há vício. Há a necessidade, o conforto, a satisfação. Cheguei aos quinze meses e começo a ter receio de não identificar o momento do corte. Parabéns pelo investimento diário que faz para a felicidade da sua família!

    • Amamentei a minha primeira muito tempo, e o tempo de parar até esse o seu instinto lhe dirá, acredite. Parei quando senti que devia e foram uns 3,5 anos….
      Mesmo ouvindo muitas criticas parei quando eu o meu corpo quis… 🙂

  • Olá, eu adoro amamentar, mas como fui trabalhar tinha a bebé 5 meses ela começou a fazer uma refeição de sopa e eu tirava o leite dessa refeição para congelar.
    Ela nunca aceitou o biberão e acabei por usar todos os sacos armazenados para lhe fazer papa.
    Hoje com 10 meses mama Sempre que quer quando estamos juntas e vai ser assim enquanto ela quiser. Tirando quando está no infantário não nos largamos. É a minha 3a e última filha quero aproveitar o máximo.

  • Rita, a cada dia que passa gosto mais deste blogue. Já sigo blogues desta "temática" há cerca de 4 anos e não tenho dúvida que é com este que me identifico mais. As palavras, imagens, etc. contribuíram, sem dúvida, para que arriscasse nesta minha segunda viagem, aí vem mais uma menina a caminho! 🙂 E Não vejo a hora de assistir àqueles momentos ternurentos entre manas, que nos derretem o coração.

    Amamentei a minha 1ª filha até decidir engravidar novamente, portanto, foram 2,5 anos de muito amor. Adorei amamentar, sempre! Desde o primeiro dia até hoje quando recordo esse momento. Comecei a trabalhar aos 4 meses e meio, mas fiz de tudo para ter stock suficiente de leite materno para a amamentar em exclusivo até aos 6 meses e sinto orgulho em tê-lo feito.
    Espero amamentar a minha próxima filha da mesma forma, sem regras, com a mesma dose de afeto, com os mesmos olhares cúmplices, quando ela quiser, sempre que quiser.
    Muito obrigada pelos seus testemunhos e pela mãe/inspiração que é. Muitas felicidades para a sua linda família!

    (Peço desculpa pelo enorme comentário)

    Joana.

  • amamentar em livre demanda sem pressas ou stresses, em hora marcada foi pra mim a melhor forma de abraçar a maternidade… era mesmo assim o bebé tinha fome dava a mama, sono mamava, queria miminho mamava e quando estavam doentes, recusavam tudo menos o aconchego da maminha. A primeira amamentei até aos 3,5 anos e a segunda faz hoje 11 meses que amamento. Tudo muito tranquilo e foram ambas as experiências com a amamentação muito muito boas. A primeira ficou comigo até aos 20 meses e quase até ao ano foi aleitamento materno em exclusivo. A mais nova foi amamentada em exclusivo até aos 4 meses e a partir dai introduzi os sólidos pois aos 6 meses foi para o infantário. Continua a mamar de manhã, á tarde e durante a noite sempre que lhe apetece!

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