O meu mano emigrou e o mundo caiu-nos em cima…

Tempo de leitura: 2 minutos

Não estou a exagerar!
Há 3 meses que sabia e sempre que alguém me vinha com um:
Ai Jesus!” lançava-me com um “tás a gozar” directo
a imaginá-lo a passear-se no calçadão, a beber
suco de côco à palhinha e a afastar miúdas que nem moscas
– que é giro o puto! –
Chegou o dia – ontem – e haviam de me ver.
Passei – eu e toda a família – a manhã
em lágrimas, a lamentar a minha vida daqui para frente,
sem o meu bebé mais velho.
(E eu que tanto critiquei o meu pai por não nos deixar fazer Erasmus!)
Sim, já é um homem mas há de ser sempre o meu maninho.
Sim, não é o único. Acho que são já 150 mil miúdos que se mandam
oceanos fora à procura de novas oportunidades.
Sim, os Portugueses são os reis da emigração desde sempre
e não há novidade nisto.
Mas desta vez foi o meu irmão.

Pode ser por 3 meses, pode ser para sempre, não sabemos…
Logo eu que sempre quis ir.
Aliás, um projeto em família lá fora era uma coisa que
me atraía.
Agora, confesso, já não sei se conseguia fazer isto a quem fica.
Principalmente, com filhos… mas talvez seja só cansaço do momento.
Somos três irmãos. A minha mãe e o meu pai trabalhavam até tarde.
Comecei por gosto a tomar conta deles. Não totalmente, claro,
mas ajudava muito.
Tanto que a minha mãe me deixava com 10 anos,
sair da minha escola, atravessar Lisboa,
ir buscá-los sozinha à deles
e levá-los – sãos e salvos – para casa.
(Impensável nos dias de hoje)
Lembro-me do orgulho que sentia em passear-me com dois irmãos
tão bonitos. E lembro-me de adorar a responsabilidade e
de não ter medo. Uma criança, a levar outras duas e mais duas
lancheiras de palha.
A minha mãe nunca teve medo.
Depois foi sempre assim. Assumi um pequeno papel maternal com
eles… até hoje.
Às vezes discutimos, às vezes damos um tempo, às vezes estamos mesmo
furiosos uns com os outros, mas ao mínimo Ui!
ou à mínima acusação exterior, somos uma equipa!
A paixão dos meus filhos pelo tio é mesmo especial.
É o nosso grande companheiro dos programas à tarde
porque o horário, quando estava empregado, o permitia.
Vou sentir MESMO a sua falta.
Mas acredito – tenho mesmo a convicção nos píncaros –
que lá lhe darão, como a tantos outros jovens com talento –
o valor que merece.
Ando agora a gerir o meu egoísmo.
Quero que lá fique, por ele e pelo seu futuro,
mas preferia claramente tê-lo por perto.
Confrontada na primeira pessoa
– quer dizer na segunda –
com a EMIGRAÇÃO
segue daqui um beijinho a todos os que passam ou vão passar por isto.
Para as mães, pais, mulheres, filhos, avós, amigos…
Para os que ficam e para os que vão.
Que isto não é nada fácil!
Mil beijos
(E como dizem os meus amigos emigras Viva o Skype!!!)

 “Dê a quem você Ama :
– Asas para voar…
– Raízes para voltar…
– Motivos para ficar… “

Dalai Lama

O Socorro! Sou mãe… também está no Facebook

21 thoughts on “O meu mano emigrou e o mundo caiu-nos em cima…

  • Não, não deve ser nada fácil, e não sei se não está perigosamente perto de mim também…Um beijinhos grande para toda a família. Fico triste por não haver oportunidades num país com tanta potencialidade. Falta de talento não é! O que é então?…

  • A minha irmã (mais nova 5 anos, a minha maninha, que eu sempre protegi…) foi para terras de Vera Cruz há ano e meio.
    E dói… E dói duplamente quando as minha princesas perguntam pela Tia Bé… E dói, porque sou mãe e vejo a dor da minha mãe…
    E dói porque no Natal os bilhetes de avião ficam ao dobro do preço e não dá para vir cá nessa altura… Raio das transportadoras aéreas fazerem dinheiro com as épocas altas (a CP não aumenta o preço do ALFA!).
    Viva o skype, mas só quando a internet lá funciona bem, porque não há internet veloz em todos os destinos (às vezes nem há…)
    E voltei à escrita à antiga, porque melhor que um email, é uma carta escrita pelo punho da mana, que leva um cheiro a Portugal e outras coisas!

  • Rita, sigo-a desde São Paulo e a experiência da emigração estou a vivê-la em primeira mão.
    Nós somos 2 manas e tenho um sobrinho de 4 anos que, até eu emigrar, vivia mesmo ao pé de mim. Somos muito muito próximos e quando ele diz que não entende (e não gosta) porque é que a Titi e o Tio viviam mesmo ao lado dele e agora vivem no Brasil, parte-me o coração.
    Entretanto fui Mãe pela primeira vez, já aqui no Brasil e a falta que os Avós e a Titi (a minha mana mais velha) fazem é indiscritível.
    Mas por outro lado se há melhor altura para emigrar é esta. O Skype faz milagres e permite-nos encurtar mesmo a distância (sem ele não sei como sobreviveria), a internet permite-nos estar a falar o dia todo como se estivessemos mesmo ao lado. Acho que falo mais agora com toda a família do que se estivesse aí.
    Muita força para esta fase inicial e tem sempre uma boa desculpa para vir passear e visitar o mano.

    • O skype faz mesmo muitos milagres, e um bom blog como o da Rita também ajuda a matar saudades de um país que também me obrigou a deixar a minha familia.
      Sou mais uma leitura que está em São Paulo! 🙂
      Beijinhos
      Rita

    • Estou nos Jardins ao pé da oscar freire! Temos que combinar um encontro de fãs da Rita em Sampa com um brinde especial ao blog:)
      Beijinhos
      Rita

  • obrigada pelo beijinho! eu sou das que emigrei. estou muito contente por moçambique, mas confesso que este post me pôs uma lagriminha no canto do olho. tenho muitas saudades de casa! força aí. passa rápido. porque nem que seja para sempre, vai sempre haver visitas. e essas sabem tão bem!

  • E neste momento estou em lágrimas. Porque estas situações me comovem e revoltam e porque eu própria começo a pensar nisso a sério. Mas atenção, faço-o sem vontade. A hipótese de sair deste país mata-me e corrói-me a alma, mas como é que posso continuar num país onde parece que não há lugar para mim? Pior. Não vejo qualquer sinal de melhoras. Que raio de país é este que nos obriga a procurar fora dele um futuro para nós? Para os nossos filhos? Sair daqui é uma ideia que me dói por mim, mas muito mais pelo meu filho e pela minha família. Sei que os avós e tios sofreriam horrores por saber que deixariam de poder acompanhar de perto o crescimento do netinho e sobrinho e, por outro lado, não me agrada a ideia de privar o meu filho de crescer rodeado da família; um pilar que considero único e tão importante!
    Sou católica, mas já não sei o que peça a Deus. Pedir-lhe para ficar e para se abrir uma oportunidade no meu país, será mesmo o melhor para mim, para o meu marido e, sobretudo, para o meu filho? É melhor pedir-lhe apenas aquilo que for o melhor para nós. Mas desconfio que isso me vá levar para longe dos meus! 🙁
    Força Rita!!!

  • Há 10 meses parti de Portugal por apenas 3 meses dizia eu…e cá continuamos, sozinhos (toda a família em PT) mas mais unidos que nunca. A dor da saudade é muita, 1º Natal longe dos pais, 1ª Pascoa, 1ª dia da mãe 🙁 mas também sou mãe e construí a minha família e foi a pensar nela, principalmente nela que viemos para o Brasil (RJ) e agora há 2 meses em S.Paulo. Não me consegui adaptar ao RJ, fantástico para passar ferias e viver em casal…com 2 filhos pequenos não achei a melhor opção.

  • Lindo poema do Dalai Lama! Espero e tenho fé que, um dia, este país possa reconhecer o mérito do seu povo e dar-lhes "Asas para voar…Raízes para voltar… e Motivos para ficar…" Que o seu irmão seja disso exemplo e que regresse! Este país devia AMAR o seu povo!

  • Que poema lindo do Dalai Lama! Tenho esperança e fé que, um dia, este país possa reconhecer o mérito do seu povo e lhes (nos) dê "Asas para voar…Raízes para voltar… e Motivos para ficar… ". Espero que o seu irmão seja disso exemplo e que regresse!

  • Cara Rita

    Eu vim para Madrid porque o meu marido, na mesma empresa, ganha mais aqui e estava mais feliz em Madrid que em Lisboa. E eu vim… por amor.
    Felizmente a minha empresa deu-me a possibilidade de vir para cá também.

    Mas custa muito – e só estou a 600km!

    Sabe o que é ouvir portugueses na rua e ter vontade de ir falar com eles?
    Sabe o que é chorar ao ouvir o hino nacional?
    Sabe o que é ter saudades de comer couve galega que, sendo espanhola, nao ha, pelo menos no centro de Madrid? que bem me saberia um caldo-verde!
    Sabe o que é chorar a ver fotos das minhas sobrinhas, falar ao telefone com os pais e amigos? Faltar a encontros, jantares e almoços? Desejar feliz aniversário e Dia da Mae pelo telefone?

    E nunca fui uma pessoa dependente. Mas muito nostálgica, admito. Nota-se!

    Temos melhores possibilidades aqui, dá-me um aperto no estômago quando vejo a TVE a falar sobre as novas medidas do meu país. Mas, caramba, é o MEU PAÍS…

    A minha cidade, Lisboa, cheira a mar logo a partir do aeroporto, ares misturados com querosene, mas MAR!
    A minha cidade tem uma luz amarela a bater nos telhados cor-de-rosa-alaranjados como nunca vi.
    A minha cidade cheira a pasteis de nata com canela e a sardinha assada no Verão.
    A minha cidade tem canários à janela, senhoras de idade de bata a dizer adeus e cuecas gigantes no estendal.

    O que eu sinto a falta de viver aí!
    Voltava já hoje. Mas maior que o meu amor ao país e a Lisboa é o amor pelo meu marido. E ele está aqui. A minha casa está onde ele estiver.

  • O teu post está lindo!
    Não tenho irmãos, mas como arquitecta, tenho uma vida de amigos que tb tiveram que ir embora. Sem perspectivas de voltar… Muito triste.
    Resta-nos dar-lhes todo o apoio e força para que tenham o sucesso que procuram e dar-lhes muito mimo quando cá voltam. 🙂
    Bj grande.

  • Rita, eu estou há dois anos a 7000 km de casa e sei o que custa aos que ficam porque cada viagem de regresso deixa muitas lágrimas para trás…, tenho filhos e também eles estão longe dos avós, dos tios e dos primos, não é fácil mas temos que agarrar as oportunidades e pensar que quando as famílias têm uma boa estrutura estão em nós onde quer que estejamos. Beijinho

  • Obrigada a todas pelas mensagens lindas que escreveram…
    Foi muito difícil mesmo…
    Sou uma mana galinha,que lida muito mal com as distâncias, mas já matámos saudades pelo Skype que realmente aproxima tanto as pessoas.
    Nem imagino o que foi há alguns anos atrás que as pessoas deixam a família e às vezes nunca mais se voltavam a ver.
    Sabe muito bem receber miminhos desse lado e ver que não estamos sozinhas nestas coisas (más!)
    Mil beijooooosssssss

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