Conciliar… Perdi a conta às vezes que digo esta palavra.

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(Vou deixar de parte hoje o tema do desemprego, mil vezes mais dramático que este.)
Ser boa mãe, boa mulher, filha, irmã, profissional, gira, alegre, asseada, motivada, organizada é a exigência dos tempos de hoje a uma simples mulher. 
A capa de super-heroína está quase gasta porque nem há tempo de a pôr a lavar.

A mulher, tem felizmente a meu ver cada vez mais a ajuda dos homens, mas porque também perdeu a das mães, avós e outras figuras importantes da família. As mães trabalham, e tanto elas como as avós já não são novas como antes porque cada vez se tem filhos mais tarde. Já não deixamos filhos com as vizinhas ou por aí em qualquer lado, nem os largamos facilmente. Os ordenados não dão para pagar ajudas, a competição está ao rubro com o desemprego sempre em tic-tac nas nossas cabeças, abusos, injustiças, trânsito, pouco respeito.
Enfim. Este país não está para fracos.
Um estudo da OCDE diz que os homens portugueses, gastam, em média, 96 minutos por dia a cozinhar, limpar ou a cuidar enquanto as mulheres gastam 328 minutos, ou seja, as mulheres trabalham em casa quase quatro vezes mais que os homens.
Eu acho que houve um progresso na nossa sociedade machista, mas pode ser só impressão… Antigamente eles nem entravam na cozinha. (Mas também muitas mulheres não trabalhavam fora de casa.)
Na generalidade, os pais já mudam fraldas e dão biberões e até levam os filhos à escola. E mais importante: até adoram estar com os filhos.
Para mim a grande igualdade é esta. Cada um fazer o que mais gosta, o que melhor faz, para depois sobrar tempo para a família. Se ele põe água no pára-brisas do carro, ou arranja os candeeiros e nós passamos a ferro, está tudo bem!!!
– Até porque nós temos a mania que há coisas que só nós sabemos fazer e, por isso, não podemos querer tudo. – 
Muitas vezes pai e mãe pouco se encontram porque para estar um não pode estar o outro… 

Mais do que a igualdade entre homens e mulheres, que ainda estar longe de equilibrar os pratos da balança, acho que importa falar de horários, discrepância de ordenados, oportunidades, exigências, creches e acompanhamento das nossas crianças.

(Mas que raio de sociedade é esta que acha mais normal deixar uma criança 10 (12???) horas na escola, do que em família?)
O que acho que podia ser justo era um dos dois ter mais liberdade para ser pai. Principalmente, nos primeiros anos de vida. 
Ou seja, é ter a colaboração das empresas para que a vida lá fora seja o melhor possível. E quando isto acontecer, sem nenhum preconceito, a nossa sociedade será melhor.
É perceber que uma boa paternidade e maternidade fazem com certeza um mundo melhor e que pais felizes são trabalhadores felizes, casais felizes, pais e contribuintes felizes.
(Assim como assim, vamos trabalhar até aos 90 anos e podiam aliviar estes em que temos filhos pequenos.)
Não me canso de dizer a palavra conciliar. Porque as mulheres podem e devem ser de tudo um pouco, mas ser mãe tem de vir em primeiro lugar.
Na próxima segunda-feira, arranca uma campanha nacional com o objetivo de tornar menos complicada a vida dos casais. Era bom que fosse mais que um vídeo romântico.

10 thoughts on “Conciliar… Perdi a conta às vezes que digo esta palavra.

  • Concordo a 1000% ! Era tão bom que as empresas portuguesas entendessem melhor a palavra conciliar, sem torcer o nariz..Vou acompanhar e apoiar a campanha!!!

  • Tão verdadade! É vergonhoso como a sociedade e as empresas tratam uma mulher com filhos ou que quer engravidar. Na minha primeira gravidez não pude usufruir do horário de amamentação porque o meu patrão disse que são leis estúpidas de uma pais estupido!! e que se tivesse insistido já não trabalhava lá!! Agora que estou grávida do meu segundo filho já me chamaram "dondoca" e grande parte das pessoas acha estranhissimo querer ter outro filho. E quando digo que ainda gostava de ter mais é quase um crime. Acho que a maternidade que é a coisa mais linda do mundo e na vida de uma mulher/homem deveria ser uma escolha livre de acordo com a vontade e disposição de cada um e não ser encarada a medo quase a pedir desculpa a sociedade por tal atrevimento.

  • Este assunto tira-me do sério. Deveria ser uma não questão. Toda a sociedade deveria conspirar para que a educação de uma criança que virá a ser um individuo dessa mesma sociedade seja a melhor possivel.

  • Ao fim de 6 anos na minha antiga empresa, achei que seria finalmente uma boa altura para engravidar. Engravidei, trabalhei das 7 às 21 e às vezes 22 hoje para deixar tudo em ordem, durante toda a gravidez. A minha filha nasceu e na véspera de regressar ao trabalho, fui chamada para rescindir o contrato.
    No dia seguinte comecei a tentar engravidar do meu 2o filho…
    Agora que gozei a licença do 2o, nas entrevistas de emprego só me perguntam se tenho filhos e o que lhes faço depois da hora de fecho do colégio (19h)… Quando eu digo que não tenho plano B, fazem uma cara estranha.
    Estou mesmo a tentar lançar-me como freelencer. Tem sido uns tempos muito giros estes. E os meus filhos são uns sortudos. Em vez de irem as 7 da manhã para o colégio ( como previsto inicialmente ) vão à hora que acordam… E são tão felizes… ?

    Mas sinto uma profunda revolta!!!

  • Concordo tanto mas tanto com tudo!!! Considero-me uma sortuda porque a minha profissão permite-me conseguir gerir o meu tempo e faço-o, embora tire muitas horas à cama, porque depois trabalho à noite. Isso permite-me acompanhar e estar muito presente na vida das minhas filhas. E consigo fazer algo quase impossível hoje em dia: ir buscá-las ao almoço e almoçarmos em casa (e às vezes vem também mais uma amiguinha. Agarram-se a mim a pedir para também as trazer)! Era o que eu fazia quando era pequena e que boas recordações tenho! E tento que elas as tenham também. Mas sou vista quase como uma allien, e alguém que tem tempo a mais…..não, não é isso, apenas as coloco como minha prioridade. Ando sempre a correr mas com a alma cheia 🙂

  • Conciliar implica um enorme grau de tolerância. Andamos com tão pouca disponibilidade para a condescendencia. A positiva, Não aquela do encolher de ombros ou da culpabilidade. As mães, os pais sao heróis sempre que tentam desbobrar-se em mil tarefas para abraçar tudo e todos. É dificil conciliar. Mas nao é bem mais fácil culpabilizar?

  • Se virmos bem, os países mais bem sucedidos e desenvolvidos (Dinamarca, Noruega e Suíça) são os países onde respeitam as famílias e ondes os cidadãos são felizes: unsdsn.org/files/2013/09/WorldHappinessReport2013_online.pdf‎

    (sim, falam nas taxas de suicído e etcs mas supostamente sao mais felizes. Não têm o nosso desenrascanço nem o "jeitinho" português, nem boa comida nem beber na rua, mas aposto que chegam às 15h a casa, têm os filhos que querem, desenvolvem a carreira e fartam-se de viajar. eu trocaria)

    Trabalhar deve-se trabalhar bem, não necessariamente "muitas horas". Uma empresa querer agarrar os trabalhadores porque sabem que há desemprego e que podem jogar com isso não pode querer ser sustentável, como depois vêm alegar. Nem sequer me estou a referir a achar que um local de trabalho deve ser feliz (ui, as empresas massacrar-me-iam); realmente o seu objectivo é fazer dinheiro. Mas também considero que trabalhadores felizes são trabalhadores mais empenhados e eficientes. E trabalhadores felizes, acredito que na maior parte, querem o mais normal da vida, que é ter uma família (com filhos ou sem filhos). E isso implica ter tempo e respeito no trabalho.

    Lamento ter de deixar o comentário como anónimo/a. Porque será?

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