Deixei de conseguir dizer: Estás de castigo!

Tempo de leitura: 2 minutos

*Já não faz sentido.

Começou por ser uma necessidade de ser fiel à minha personalidade. Dava por mim a ralhar, cansada até de me ouvir, por coisas de nada. ora migalhas, ora brinquedos, ora bulhas, ora barulho.
Porque é que as mães é que fazem sempre o papel de chatas na vida dos filhos?
Eu não vou ser a chata dos meus!
Comecei a ler como tentar mudar as coisas, como ser EU na maternidade. [Não nos esquecermos da nossa essência no meio deste papel desafiante é a grande questão.]
 Uma pessoa que normalmente está bem, que odeia conflitos, gritos, estar zangada e cansada.
Não que vivessemos em mau ambiente – muito pelo contrário – mas havia castigos e eles ficavam imensas vezes a “pensar” na vida.
Mudei o meu sono. Tenho dormido muito mais. Não dava para aguentar o ritmo das 5 horas por dia. [às vezes mais, mas outras vezes menos]. neste campo quem sofreu mais foi a fotografia, onde fazia noitadas de edição.
Mudei a forma de os “castigar”.
Passei a conversar muito, e a estar atenta à necessidade do momento. Estabeleci algumas regras e essas são inquebráveis. Aprendi a dizer não só às coisas que são não mesmo.
Cortei a televisão e o vício com que andavam nas apps do meu telefone.
Temos têm dado mergulhos no mar [fica tudo a achar que sou uma mãe doida com este frio] e andado soltos na natureza.
Aprendi formas de eles expressarem as suas emoções. Dei-lhes espaço para se oporem à minha , sem no entanto permitir más educações.
Aprendi a abraçar as birras e a aceitá-las como parte do crescimento. Consegui abrir asas e dar-lhes mais autonomia.
Aprendi a confiar que se não  comem é porque não têm fome, e se andam descalços não têm frio nos pés. (Apesar de eu continuar a ter frio só de os ver e ficar desolada se não comem a sopa.)
Cortei nos doces e apesar do meu horário tenho lido a história todos os dias e acabando por adormecer com eles. Aprendi que o stress dá cabo da nossa vida, que pode ser viciante e que tem implicações drásticas nos miúdos.
Não é fácil uma harmonia familiar constante, nem a perfeição, mas nunca mais disse: Estás de castigo!
E é possível. Com muita paciência e entrega. Com uns achados em livro. Com tempo e sem stress. Com opções. Com deixar de querer ir a tudo.
Perdemos algumas coisas, mas ganhamos outras muito melhores.
Nós adultos não passamos a vida de castigo. Aprendemos com os nossos erros, passamos a conhecer-nos melhor. E é também assim que todos nos tornamos melhores.

*(Nós a sermos fotografados pelo querido Pau Storch para esta campanha que amei e que fez tanto sentido numa fase de mudança consciente como mãe. Se passarem na Avenida da Índia a partir de hoje já nos podem ver – e a outras famílias lindas.) Se conseguirem mandem-me uma foto, ok???? 😉

18 thoughts on “Deixei de conseguir dizer: Estás de castigo!

  • Obrigada,
    serve sempre de boa inspiração… Podes partilhar alguma da literatura em que te inspirastes? Acho que preciso muito…
    Bem haja,
    Paula

  • Adorável este desabafo e tão difícil de por em prática… eu tb digo muitos sims! e aprendi consigo a usar a natureza a nosso favor para um programa inesperado, uma vista diferente, as memorias…e agora já me pede para repetir. Para mim o que é difícil, é que a minha já está na escola e temos menos tempo, precisa de calma para fazer os TPC. Aí é que eu mudei, porque perco a paciência e quero que faça rápido e não se destraia, e criava-lhe ali um momento de tensão que não pode acontecer! Agora já faz nas calmas, sem stress e no meio de uma brincadeira ou outra!

  • vi ontem uma coisa que é a sua cara! livros para colorir para adultos, acho que ia adorar fazer com os seus Filhos. Pesquise.

  • Como? Como? Como? Também não gosto nada das imposições, do stress, de ir a correr fazer os trabalhos de casa (odeio os trabalhos de casa), de terem de ir para o banho depressa porque depois vamos jantar e se se deitam tarde no dia seguinte parte-me o coração ter de as acordar cedo para a escola, dos castigos, de estar sempre a repetir a palavra não, mas não consegui ainda encontrar a forma de dar volta a isto 🙁
    Gosto mesmo muito de ler o que escreve. Obrigada!

  • Muitíssimo obrigada por este maravilhoso texto!
    Penso exatamente da mesma forma e espero conseguir por em prática, algumas coisas que referiu. A minha pequenina tem apenas 23 meses mas já há muito tempo que é uma expert em birras. Fomos há cerca de um mês viajar para os 3 para os EUA e aprendemos a "domesticar" as birras (senão ninguém aproveitava a viagem e andávamos todos em stress). Aprendemos a desvalorizar as birras que têm origem na vontade de dormir e a contornar as restantes com muito baloiço e escorrega, muitas cantigas e passeios no parque. Ainda assim nem sempre é fácil, mas temos que ser nós a fazer por isso.
    Não gritar, não stressar, não castigar.

    Grata Rita!

    Joana

  • É uma inspiração Rita!!! Estou sempre a aprender consigo!
    Realmente, o stress só nos tira qualidade de vida em todos os aspectos!
    Obrigada por tudo o que escreve!
    Muitos beijinhos
    Maria João

  • Adorei Rita! É isto mesmo!:)
    Acho que vou imprimir este post e dá-lo aos pais aqui da creche! Acho que os vai ajudar imenso!

    A fotografia está muito gira lá na Av. da India!

    Um beijinho e mais uma vez obrigada por tudo!
    Francisca

  • Devo dizer que tenho muita dificuldade em compreender como colocar isso em prática. Os pais chegam a casa e têm que fazer o jantar, dar banhos, etc.

    • O stress e a pressa são mesmo os culpados. Tentar a colaboração deles é uma boa técnica e protegermo-nos dos stresses outra. Já há muitos livros que dão ajuda a peparar-mo-nos por dentro 😉
      O que interessa é ir tentando 😉

  • E depois é fantástico quando vamos a conversar e ela comenta que a amiguinha chamou chata e mandona à avó, mas que eu não sou nada assim!
    (apesar de achar que ainda podia ser menos e de ter momentos em que só me apetece morder a língua, por ter deixado o relógio e o cansaço imporem-se)
    Mas é bom e só nos faz bem a todos esta mudança de postura: "tornamos-nos melhores" 🙂

  • Olá. É a primeira vez que comento mas gostava de lhe colocar uma questão: isto para funcionar, não tem que ser a dois? Isto é, a Rita fala de si enquanto mãe, mas não do pai. Se me permite a intromissão, o seu marido está na mesma "onda"?
    Por exemplo, de manhã, sozinho com dois, com o horários para cumpir, consegue não se enervar?
    Eu estou a passar por uma fase horrível, principalmente com a minha filha mais velha (6 anos em Fevereiro). Não faz absolutamente nada do que lhe peço à primeira, faz de conta que não ouve. Basicamente só faz quando lhe berro. Todos os dias me deito com uma sensação de fracasso enorme. Sinto-me a pior mãe do mundo. Todos, mas mesmo todos, os dias me deito a pensar que isto tem que mudar, que amanhã não vou gritar, mas a verdade é que não consigo. Gostava muito de saber como consegue: fala em livros, podia p.f. partilhar que livros são esses? Gostava muito, que falasse mais um pouco desse processo.
    Obrigada
    Carla

    • Sim, sim, tem razão. Muitas vezes ligo para casa e aquilo está o caos 😉
      As manhãs não são fáceis. E eu também não consigo sempre. Aliás, falho muitas vezes mas sinto que estou a falhar e tento mudar.
      Eu não tento mudar o meu marido, nem ninguém, mas converso muito sobre o que sinto e pelo que estou a passar…. há algo muito engraçado que acontece quando nós mudamos. Por osmose ele também tem tentado de outras formas;)
      Um dia vamos estar os dois zen 😉
      vou fazer um post com sugestões 😉

      Mts beijinhos

  • Sou adolescente e não concordo muito com este tipo de educação.. agradeço muito à minha mãe por ter sido tão rígida comigo algumas vezes e que me tenha posto de castigo. Nós compreendemos que vocês se esforçam por nós mas admitam, mães, não são perfeitas mas nós também não 🙂 há umas semanas a minha mãe foi para o estrangeiro durante 5 dias. Senti a falta dela mas o do que mais senti falta foi daquele sermãozito para me levantar do sofá. Fiquei o fim de semana inteiro a ver televisão e não fiz nada de jeito… não me arrependo disso porque me fez ver o quanto eu preciso de uma mãe. Enganei-me. Da minha mãe!

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