Não sou uma mãe descontraída!

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Não sou uma mãe descontraída. Posso parecer, mas não sou.
Não os deixo sozinhos, nem no meio da multidão, nem no meio do tudo, nem no meio do nada. Não os largo no supermercado, no mercado, na praia, no campo, na cidade, no jardim, no campo, na estrada, no passeio. Não os deixo sem cinto de segurança, sem bóias, sem colete, sem protetor solar..
Não sou uma mãe descontraída porque nunca acredito quando me dizem “aqui não há perigos nenhuns“. Há sempre perigos!
Os meus filhos nunca “Andam à solta por ali” como se dizia na geração acima. Nós “andámos à solta por ali”porque não se sabia, porque talvez acontecesse menos [ou não], porque havia muitas tias, avós, irmãs… Os nossos filhos, infelizmente, não podem. Não deixo outras crianças responsáveis por eles, nem outros que não possam ou consigam ser responsáveis pelo que pode acontecer. Não os deixo com qualquer um.
Podia ser uma mãe descontraída, se o mundo me permitisse mas não sou. Não sou uma mãe descontraída.
Há perigos que vejo, que não vejo, que já ouvi e que nunca ouvi [e que não quero ouvir.] Há perigos óbvios e perigos incalculáveis.
Há as alturas, as descidas, a estrada, o passeio, as piscinas, o mar, os baloiços, os estranhos, os buracos, os montes, as fichas, os choques, as quedas, os paus, as facas, a multidão, os elevadores, as escadas rolantes, as escadas em geral, as janelas, a água a ferver, o forno, as portas, os raptos, as violações, os escaldões, os abusos, o excesso de informação, a violência, as esquinas, os animais, os teleféricos, os carrinhos de choque, as montanhas russas, as ravinas, os mergulhos, os vidros, o comboio, o metro, os autocarros, os medicamentos, os produtos de limpeza, os sismos, os tsunamis, o fogo,…
Amava ser uma mãe descontraída, se essa descontração não implicasse os meus filhos. Adorava poder oferecer-lhes toda a autonomia que as crianças precisam (tanto), se não quisesse deitar-me à noite com a sensação de que fiz tudo bem, tudo o que estava ao meu alcance.
Não posso ser uma mãe descontraída porque quero certificar-me que preveni o azar, e que quando ele não é prevenível, só assim não tenho culpa. Então posso descansar a minha alma sabendo que não foi por mim, ou por falta de mim.
Não sou uma mãe descontraída e não quero sê-lo. Não quero perder talvez aquela que é a única hipótese. Quero garantir em primeiro lugar a segurança dos meus filhos e depois tudo o resto.
Não sou uma mãe descontraída e vivo à procura de lhes oferecer essa liberdade [ainda que aparente], fingindo que não estou atenta, para que desenvolvam a sua autoestima e independência como deveriam.
Não posso ser uma mãe descontraída, mas sou uma mãe calma quando estou a olhar por eles.

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