Fui jantar com as minhas amigas mais antigas e estava uma delas a contar que, nesse mesmo dia, tinha percebido que o filho mais velho se tinha baldado a umas aulas porque uma plataforma online lhe permite controlar o miúdo ao segundo (sim, tipo Big brother is watching you.)
Ela estava ali conosco e topou tudo o que aconetecu no dia do seu filho.
A verdade é que eles agora dão um pum e os pais sabem. Antigamente, só quando estavamos quase a esgotar o limite das faltas é que os nossos pais percebiam. Mas o tempo que passou já era nosso. Feito de aventuras e boas memórias.
Ela sabia, por exemplo, que ele tinha faltado uma hora, o que tinha almoçado e que tinha comprado uma garrafa de água.
Ora que andámos todas juntas na escola e liceu, [e nos baldámos muito] e foi unânime:
– Coitados!!! Nem se baldar ao liceu podem hoje em dia!!!
Claro que não é no 6º ano, mas 12º?!? Quem não foi namorar durante a aula de história ou para o café na aula de Matemática, e foi muito feliz?
O mundo está difícil, perigoso e competitivo e a nossa resposta possível foi controlo. A autonomia e o livre arbítrio estão em vias de extinção. Acho que também é preciso cuidado para não cairmos no oposto e não confiarmos nos nossos filhos.
Agora ensino-os que chegarem atrasados é falta de respeito, Que a verdade é o maior tesouro que podem fazer nascer neles e que, por mais duro que seja contar, tem sempre mais desculpa que a mentira.
Quando forem maiores vou deixar os meus filhos usarem as suas faltas para fugirem, de vez em quando, ao excesso de controlo, de escola. de regras e de calendário a que estão obrigados hoje em dia. Em troca da verdade para eu saber onde andam. Não vou fomentar a falta, mas também não vão precisar de falsificar a minha assinatura, ou encherem o meu telefone de vírus. 😉
Os controlos dos tempos modernos.
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obrigada por esta lufada de bom senso e sanidade mental Rita, a sério… Autonomia implica responsabilidade. Controlo à la big brother nunca poderá ser uma resposta saudável…
O mundo mudou, sem dúvida. Nós mudámos em relação aos nossos pais e os nossos filhos já não têm os comportamentos exatamente iguais aos que nós tínhamos. É natural. A evolução faz se dessa forma. Julgo que, como vivemos a tão aclamada era da informação, acabamos por viver, de certa forma, obcecados por ela. Como se ela nos desse algum tipo de poder. E dá. Claro que dá. Mas estaremos nós preparados para a onnisciência? E, mais importante, será que nos faz assim tanta falta? Saber o que os miúdos compraram nas máquinas da escola? Por amor de Deus… Cada um escolherá a forma como melhor achar, como é óbvio… Pessoalmente, nunca consultei essa aplicação. A escola que os meus filhos frequentaram o ano passado dava nos uma password para aceder à dita plataforma, mas nunca tive curiosidade alguma em consultá la. Correu tudo bem. Igual aos outros anos. O mais velho mais aplicado, o mais novo nem tanto, e por isso a requerer mais atenção, mais estímulo, maiores doses de compreensão, mais encontros com a DT… Se lhes dei dinheiro para comprar água e compraram Coca-Cola? Acredito que sim. Aliás, espero bem que sim. Construir memórias é isso mesmo… É fazer o contrário daquilo que os pais nos dizem e mais tarde brincar com isso. Felizmente, o papel dos Diretores de turma está cada vez mais interativo e, salvo raras excepções, revela-se eficaz. Se houver perigo, o DT estará também ele(a) atento(a) e informar-nos-à sem necessidade de recurso a cenários obstinados de controlo de segurança em aeroportos… ��
Rita o meu filho de doze anos anda no sétimo ano. No último dia do primeiro período resolveu ir com um colega ao centro comercial em frente à escola comprar gomas…. só que perdeu a carteira e os quinze minutos do intervalo passaram rapidamente enquanto a procurava e por isso chegou atrasado. Nem imagina a cena que o DT fez. Queria que eu fosse nessa mesma tarde à escola tomar conhecimento de tal facto. Todo um filme por um puto fez uma parvoíce….
Já não basta o desgracados não poderem ter feriado quando os professores faltam….
De facto Rita, pode parecer tentador, mas é (quase) preverso, acho… Esse controle em absoluto de tudo o que os filhos fazem, a que horas, com quem, em que locais. Também acho que assim não educam a autonomia responsável e também acho que a nossa supervisão/atenção/controle à distância, na retaguarda, não tem que ser desligado e/ou ausente. Pode ser muito eficaz, fá-los sentir que estamos presentes em tudo, mas que são ELES e só ELES os primeiros agentes responsáveis.
Um beijinho…