O raio das comparações.

Tempo de leitura: 2 minutos
Deixei de o fazer. Com os meus e com os dos outros. Espicacei a minha consciência para que me alertasse para este erro.
Facilmente se cai nisso. Somos inigualáveis na arte da comparação. Exímias comparadoras dentro e fora de casa. A alto e bom som e no nosso interior mais escondido.
Os primeiros tiveram dentes mais cedo, andaram mais tarde, sentaram-se ao mesmo tempo. Os meus filhos não comem tão bem, são mais alegres, mais bem educados. Fotos partidas pelos quantos filhos que temos, comparando os tamanhos quando nasceram, a dentadura ou ausência dela, a forma de dormir, sentados, os primeiros passos, as bocas, os olhos, as orelhas, é mais magro, mais gordo, saem ao pai, saem à mãe… Já se sabe. Corre-nos nas veias juntamente com amor e entrega.
O “problema” é quando a comparação faz parte dos nossos dias, minutos, segundos e nos faz (e a eles) reconhecer um através de outro.
Não nos é fácil libertar da comparação, dentro e fora de portas. Este é mais feliz, o outro é envergonhado, é o que tem mais mau feitio cá de casa, é o mais desarrumado, é o mais dependente de mim… E se os adultos dizem, mesmo que não sejam, eles passam a ser. Há em todas estas afirmações um prenúncio escondido que a criança não encomendou para o seu futuro. Uma profecia ingrata que os vai espartilhar.
Cresci envolvida em comparações e continuei sempre a viver entre elas. Chega!
Proibi-me a comparação. Disfarço a cada sugestão, a cada insinuação.
Um dia já me disseram que a minha mais nova era a mais perfeitinha. Juro!
Comparam-lhes a cor dos olhos, dos cabelos, a gordura, os traços, o feitio. Comparam a personalidade. Comparam o que é nato e o que é inato.
Já tantas vezes me apeteceu gritar:
–  Liberta-te da comparação! Dos rótulos. Das etiquetas. Do mais isto, menos aquilo. Não faz bem ao meu/teu filho!
Nas escolas também se vive intensamente a comparação e viver individualmente, livre, sem se ser colocado em perspectiva é uma raridade. Há as notas, os quadros de honra, os bem comportados, mal comportados, os que comem mais lento, os que comem mal, os que chegam sempre tarde…
Vai-se do geral para o particular, quando a atenção deve ser focada nessa criança e no seu desenvolvimento individual. Não em relação aos outros. Porque cada criança tem o seu ritmo e os seus interesses. [Mas isso são outros 500.]
Os meus filhos são muito diferentes e, muitas vezes, me via a colocá-los em fila na minha mente para os definir.
Agora já soa uma sirene de alerta que me trava a comparação. Parei. Ou tento parar, porque são muitos e muitos anos de heranças comparativas.
Ninguém, e muito menos uma criança, é o que nós adjetivamos. Naquele corpo pequeno cabem todos os adjetivos, bons e maus, e dizermos que o são já estão a ser. E há muitas verdades. Essa é só a nossa. E quem nos diz que é a deles?!

9 thoughts on “O raio das comparações.

  • Tudo muito bonito! E também para mim com alguma verdade. Alguma porque as comparações não têm de ser encaradas de modo negativo. Muito pelo contrário. Muitas vezes é das comparações que surgem os alertas às mães de que alguma coisa esta errado com os filhos. E quantas vezes lhes é dada a razão.

  • Rita, assino por baixo… Ainda que me apanhe tantas vezes a fazer o mesmo tipo de comparação com que vivi a vida toda… Ninguém gosta de rótulos, miúdos ou graúdos. Obrigada por me fazer pensar e repensar a vida tantas vezes…
    Maria Koenig

  • sempre me comparam ao primeiro (o benjamin), o X.
    sendo a segunda, sempre me vi como a suplente lol la em casa a filosofia era a de q "boys will be boys" a quem td se permite, e as meninas so dao prejuizo e sao para estar ali quietinhas sem incomodar.

    mas lembro-me bem de ouvir toda a minha vida q o X comecou a comer sozinho aos N meses, ja andava com N meses … eu coitadinha falhei as etapas todas :S

    como ja sou mae, isso aflige-me ainda mais, pq comecaram ja os comentarios: "n fala? o n sei quantos ja fala","n anda? a n sei qts ja faz o pino a andar","ainda n tirou a m##da das fraldas?", and so on…

    Como ja foi dito pelo Anónimo 6 de janeiro de 2017 às 16:19e pela Rita, comparacoes sim sao importantes mas para despistar algum problema e como forma de alerta para algo q deva ser mais controlado, therefore a ser discutido entre adultos e de preferencia com o pediatra, pq treinadores de bancada ha mts.

    mas isto é um mania q dura a vida toda Rita, ainda oico as famosas comparacoes e ainda amuam pq ha sempre alguem q fez qq coisa antes ou melhor q a sua querida suplente … o X pode fazer as maiores asneiradas do mundo mas sera sempre o X. ja os dei como perdidos.

    n sei o q me irrita mais, se as comparacoes se a interminavel injustica q é feita as miudas.sou mae de um rapaz, e sou lembrada frequentemente da preferencia pelos rapazes, ainda é comum ouvir o famoso comentario "coitado so teve miudas". é comum na familia a malta saber de cor o nome deles, delas ja é mt complexo. lembram-se mt facilmente de feitos alcancados por rapazes. é comum realcar feitos deles. é comum a seguir a realcar um feito delas ter de compensar imediatamente com um feito deles, o contrario n é tao comum.

    li algures um pouco sobre o facto de q um rapaz q comanda um grupo nas brincadeiras e da ordens é visto como "acertivo", uma rapariga sera vista como "mandona".

    boa sorte a quem luta contra todo o tipo de catalogacao, somos mts!!

  • Sou mãe de gémeas e infelizmente toda a vida vão sentir-se comparadas. Desde o inicio que tento que não hajam comparações mas as pessoas têm muita dificuldade em entender isso, o que tantas vezes me deixa os nervos em franja… "Qual come melhor? Qual tem melhores notas? Qual é mais alta? Qual é mais preguiçosa? Qual é mais arrumada? Qual é mais amorosa?" E isto há frente delas, muitas vezes perguntas diretamente dirigidas a elas … É de uma injustiça tremenda a vida delas estar constantemente colocada numa balança em que cada uma é um dos pratos da balança. Na primária a professora chegava a passar-me as avaliações de forma comparativa até eu dizer que não aceitava as coisas dessa foram. São duas meninas com fisionomia semelhante mas personalidades únicas e devem ser referidas de forma única, sempre. É uma luta diária contra este vicio que muitas vezes pode arruinar a confiança e genuinidade das crianças…

Responder a Edien Mar Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *