Eu sou aquela mãe…

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Eu sou aquela mãe que os filhos interrompem a cada segundo e atropelam qualquer conversa.
Eu sou aquela mãe que tem de deixar telefonemas a meio porque não consegue ouvir o outro lado. Eu sou aquela mãe cujos filhos fazem barulho nas piores alturas.
Eu sou aquela mãe que os filhos estão à porta quando tomo duche, que entram pelo quarto sem pedir licença, que põem cotovelos à mesa. Eu sou aquela mãe que repete mil vezes a mesma coisa, que passa a vida a apanhar coisas do chão. Que num minuto tem a casa num brilho e no outro a seguir parece que alguém a virou do avesso.
Eu sou aquela mãe que está sempre a carregar alguma coisa.
Eu sou aquela mãe que cai sempre no erro de os levar ao supermercado.
Eu sou aquela mãe que tem sempre um filho pendurado na saia. Que tem sempre um filho a pedir para eu ver, para eu ouvir, para eu fazer.
Eu sou aquela mãe que tem raízes por fazer, verniz a saltar das unhas e quando começa a época balnear nunca está pronta para enfrentar a praia. Eu sou aquela mãe que estica as madeixas ao limite e por falta de tempo não aderiu a pintar o cabelo para não ficar presa a essa obrigação.
Eu sou aquela mãe que, todos os anos, tem de cortar um molhão de cabelo porque não foi cortando pontas. Aquela mãe que o inverno escondeu o corpo atrás de roupas quentinhas e confortáveis.
Eu sou aquela mãe que nem se pode ver ao espelho antes de ir para a praia.

Eu sou aquela mãe que não tem sempre os pés arranjados, que não tem sempre o cabelo brilhante, que não se maquilha todos os dias, que não tem boa cara a toda a hora. Mas que, graças a eles, sente um brilho especial.

Eu sou aquela mãe cujas três cesarianas deixaram mossa. Eu sou aquela mãe que tem dias de mau cabelo, de muitas olheiras, de cansaço.
Eu sou aquela mãe que, às vezes, acha que não chega, que não basta, que acha que já é demais.
Eu sou aquela mãe que acredita que é, sem sombra de dúvida, a melhor pessoa para cuidar deles. E que ninguém faz como ela.
Eu sou a mãe que sonha com a hora de os deitar mas que acorda de manhã com saudades deles.
Eu sou aquela mãe que adormece no sofá na introdução dos filmes, que não consegue ler um livro.
Eu sou aquela mãe que, às vezes, não está a ouvir nada do que eles dizem mas diz que ouviu.
Eu sou aquela mãe que se junta com amigas e acaba sempre a falar de filhos.
Eu sou aquela mãe que, às vezes, não os pode ver à frente mas que quando se separa deles morre de saudades.
Eu sou aquela mãe que os manda calar mas que estranha o silêncio.
Eu sou aquela mãe que se queixa do tempo interminável das férias, mas que se tinha queixado de tanto tempo que passam na escola.
Eu sou aquela mãe que os manda arrumar e acaba sempre a fazer com eles ou por eles. Eu sou aquela mãe que, às tantas, rebenta.
Mas acima de tudo eu sou aquela mãe grata pelo privilégio de os ter na sua vida e que sabe que, mesmo com tudo isto, não há melhor vida que esta.

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