Passei férias muitas vezes na direção da seta que aponta para a direita.
Esta foto, parte-me o coração.
Não mais que a da senhora carregada em ombros pelo GNR ou do bombeiro destruído pela fatalidade que se lhe cruzou. Tudo isto é de uma mágoa e revolta enormes.
Cada vez que passava por este pinhal tinha orgulho do meu país. Agradecia.
Que bom não sermos um país sem arranha-céus, poluição a mil e gente de máscaras na rua.
Que bonito era. E que relíquia. Enchia sempre aqui os pulmões como que a reservar um bocado de saúde até ao meu regresso.
Agora este pinhal já não existe. Era um pulmão para aquelas gentes e o meu peito agora é só um aperto.
Agora este pinhal já não existe. Era um pulmão para aquelas gentes e o meu peito agora é só um aperto.
Como podemos fazer isto? Como deixámos aquela gente sem nós? Como não exigimos mais?
Como estivemos a aprovar leis tão insignificantes ao lado desta tragédia?
Sinto-me também culpada.
E sinto uma tristeza ainda maior por não haver responsáveis.
Heróis só os que entram chama a dentro.
Mas quem devia inspirar, proteger, arregaçar mangas, não abraça, não ouve, não vai para o meio da gente. Faz contas a votos. Está inundado de interesses. Sacode a água do capote. Aponta o dedo para outra direção.
Precisamos de heróis fora das chamas.
Como deixámos morrer mais de 100 pessoas?
Como?
Precisamos de pedir desculpa. Todos.
E é essa falta que se sente.
Alguém que se chegue à frente e peça desculpa. E chore. E se comova com estas histórias.
Eu peço desculpa.
Precisamos de heróis fora das chamas.
Como deixámos morrer mais de 100 pessoas?
Como?
Precisamos de pedir desculpa. Todos.
E é essa falta que se sente.
Alguém que se chegue à frente e peça desculpa. E chore. E se comova com estas histórias.
Eu peço desculpa.
E rezo para que o céu traga finalmente a paz, já que há coisas que não vai trazer de volta.
Que traga chuva. Só essa tem agora o poder de salvar.
E humildade e empatia que parece que hoje em dia escasseiam tanto como ela.
E se fosse contigo?
Foi comigo! Sou Marinhense, nascida, criada, e aqui conto ficar até ao fim dos meus dias! Perdi parte da minha vida ali – muito do que sou enquanto marinhense foi-se naquelas labaredas, naquele fumo… desejo um dia poder brincar de novo na mata com os meus netos, já que com a minha filha de 6 anos não poderei voltar a fazê-lo, pelo menos enquanto criança… 700 anos de história desapareceram em 24 horas! Espero que a mata volte a ser o que era, nem que leve 20 ou 30 anos. Espero que não venha a ser mais um eucaliptal… estou destroçada… metade de mim foi-se naquele fogo…
Foi isso que acabei de dizer na minha página! Somos todos responsáveis, porque todos somos Estado e não exigimos mais,porque nos calamos.
Maria Pires
Voluntariado para replantar?
Sim, estão a surgir imensos movimentos nesse sentido! Hoje mesmo vai haver um encontro em Leiria para pensar em conjunto como podemos fazê-lo, porque apesar de a mata ser aqui ela é uma mata nacional (poder central). Sábado haverá cordão humano ao longo da estrada atlântica.