Voltar a falhar melhor
Como o barro se molda e volta a renascer também a vida das pessoas se pode recriar e reinventar até ao último momento. Talvez não haja melhor exemplo de desmanchar para reerguer do que o barro. De perder a forma, para se construir mais forte e bonito que antes. De fazer e voltar a fazer.
Resistir ao pior que pode acontecer, ver a luz no túnel escuro e perceber que se céu não fosse preto não se viam as estrelas, fez-nos dedicar esta edição a estas tribos, das mais valentes que por aí andam. Porque nem só de slowliving se faz a vida, como falámos na primeira edição, e nem tudo dela tem sal, como mostrámos na segunda.
“Resiliência” não foi um número leve de fazer acontecer. Muitas vezes chorámos aqui com quem connosco partilhou as dores, as perdas, as recaídas, as lutas. Mas também sorrimos. Cada história que aqui contamos, foi escolhida a dedo, graças ao intérprete que a viveu. Inspirações que queremos que alcancem os olhos de quem nos lê porque, na nossa existência, nem isso é garantido, como vão perceber pela Mariana, com quem fiquei, confesso-vos aqui, com uma relação especial para todo o sempre. Aliás, cada caso que aqui trazemos ficou-nos eternamente guardado no coração. Um elo que só acontece quando os adjetivos são duros demais e os sujeitos uma lição.
Este tema tomou conta das páginas e até da minha vida. Nada de grave é certo, quem sou eu para me queixar depois de tudo isto?! Mas também percebi que, além da maior tragédia, o dia a dia mais comum, a rotina mais banal, também podem ser um desafio.
Tinha fechado o computador. Acabava de escrever a reportagem da Stefanie que perdeu a casa e todos os seus pertences num incêndio em Covas, quando a minha aldeia se viu paredes meias com um fogo enorme. E senti um bocadinho do medo do que é estar de frente com monstro assim. Mas também percebi que o importante são os meus e do fácil que é, perante isto, pegar neles e sair de mãos a abanar.
As férias dos meus filhos entrelaçaram-se nestes capítulos e duvidei algumas vezes da minha capacidade de me superar. Como exercício, punha no prato da balança as experiências que aqui contamos e os meus problemas acabavam por se tornar um monte de nadas, sem importância. Há sempre uma história pior que a nossa, aprendi. Não que nos sirva de consolo mas ensina-nos a agradecer.
Uma das mães que entrevistámos, cuja filha tem trissomia 21, foi um abrir de olhos para mim, quando me sentia exausta por conciliar família e trabalho numa edição só. Em dado momento conta-nos que sempre fez questão de que a filha só fosse a sítios de que gosta e que a deixam feliz. Não deveria ser assim sempre?!
E assim fomos visitar duas escolas, Montesorri e Waldorf, de duas mães que, antes de as abrirem ao público, as criaram para fazer felizes os seus filhos.
Para finalizar, gostava tanto que esta revista tivesse som para vos mostrar a jornada pela qual passaram a Safira, e a família, a menina que há oito anos fez notícia, por uma ordem do tribunal que a ia retirar aos pais para que fizesse quimioterapia, contra vontade. É que ela tocou-nos, ao piano, uma composição feita por Gabriel que nos parecia mesmo, mesmo, que soava a essa viagem. A revista não tem som mas vamos deixar o momento no nosso Instragram para que possam sentir que é possível dar a volta a tudo nesta vida, basta estarmos vivos.
Beijinhos para a vossa tribo
Rita
Olá Rita
Muito parabéns pela revista, está simplesmente espetacular. Supera qualquer outra que por aí ande no mercado. Admiro a pela sua persistência e gosto por tudo aquilo que faz. É uma inspiração para qualquer pessoa.
Beijinhos aqui do norte.