Viagens na minha terra…

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Vivo num sítio perto, mas que parece tão longe. 

Em 20 minutos chego à capital,

mas aqui dão-me salsa e coentros de graça,

dizem-me: “Bom dia vizinha! Os meninos estão bons?!”

quando passo por eles de manhã, 

pode pôr-se na “conta” e

a família toda trabalha no mesmo negócio.

Hoje fui com os dois à mercearia

e uma senhora de 80 anos que pagava as suas compras

larga tudo e vem directa a mim.

Quando chegou disse-me: – Desculpe, é que é tão parecida

com uma menina que vivia aqui… A sua família é daqui?!

Eu disse-lhe que não e, entre várias palavras, percebi que essa rapariga

já não estava cá, na terra…

Engoli em seco e continuei a dedicar-lhe toda a atenção.

Não percebi nada muito bem, até porque a sensação 

da solidão foi invadindo cada bocadinho de mim.

Entre lágrimas, pediu-me desculpa pela emoção…

Eis se não quando o meu filho resolveu chamar-lhe avó.

A senhora ganhou o dia, o mês, quem sabe anos…

Pediu-me se podia ser ela a pagar os doces que eles já estavam

a escolher para levar.

A muito (muito) custo lá consenti.

Achei que o peso de destruir aquele momento

era ainda maior que o peso na sua carteira.

E ela contente, entre lágrimas e sorrisos, perguntava-me tudo sobre eles,

sobre mim e até já se intitulava de avó…

Saíu e eu, que tinha levado um enorme chapadão com tudo isto,

comentei com o Paulo da mercearia

todo o episódio ao que me responde ele:

– Ai! Se te fores comover com todas as histórias de velhinhos

que vivem aqui sozinhos já não sais daqui!

E vim-me embora, com a sensação mais triste do mundo

mas feliz porque nesta pequena (micro) mercearia

há uma carrinha que entrega de graça em casa 

as compras de todos os velhinhos da zona.



2 thoughts on “Viagens na minha terra…

  • Oh!!! Até fiquei com lagrimas nos olhos!
    Se pudesse fazia companhia a todos os velhinhos que estão sozinhos neste mundo!! Mtos até têm família mas que não lhes liga nenhuma… Quem me dera ainda ter os meus queridos avós e tios avós vivos!!!

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