Quando eu escrevia…

Tempo de leitura: 3 minutos

crónicas aqui e gostava tanto!!
Porque perdi o rumo aos textos
 – ainda ando em busca nas pastas do computador –
vou recordá-los aqui de tempos a tempos.
Esta foi a primeira.

MISS MY BELLY
“Nunca pensei já estar a dizer isto, mas a verdade é que tenho.
Mesmo. Muitas saudades.
Começa por ser só aquela sensação de borboletas na barriga que, digamos,
nesta altura ainda não é nem carne nem peixe.
Temos de ficar muito sossegadas, em silêncio e com muita concentração.
E aí, sim… lá vêm aquelas coceguinhas tímidas que
nos provocam um riso nervoso, num misto de felicidade e pânico.
E é aqui que, para nós, se dá início a nova realidade.
As calças começam a apertar cada vez com mais dificuldade.
Sentimo-nos maiores, muito maiores. Até podemos ouvir algumas bocas
para termos cuidado com a linha. Isto se não houver outras provas,
 como enjoos e cuidados alimentares, que pode até ninguém reparar
 que temos, em nós, um bebé.
É nosso e está a crescer cá dentro.
 E que ninguém lhe chame gases, que isso nos tira do sério.
(Apesar de que às vezes são mesmo…)
E depois queremos que toda a gente o sinta.
Armamos o escândalo, chamamos com urgência quem está mais perto de nós.
E quando essa pessoa pousa a mão na nossa barriga…. NADA! Um vazio total.
«- Juro, juro, que ele estava a mexer agora!»
Até aquelas grávidas que odeiam estar, acabam por recordar
nem que seja um momento daqueles, vivido a dois.
Há muitas sensações dispensáveis, é verdade.
Enjoos, azia, peso, calor, pontadas, retenção de líquidos,
celulite, estrias, dores, contrações, ciática, descolamentos de placenta
 e um sem fim de possíveis contratempos.
A gravidez pode ser um peso grande demais para o nosso corpo
e organismo suportarem durante os 9 meses,
mas haverá maravilha maior que o sentirmos mexer?!
O nosso bebé (porque para nós é sempre o nosso bebé)
passa de um risquinho no teste, para embrião, depois para feto e vai,
lentamente, ultrapassando todas as etapas.
Ganha peso e tamanho, ganha membros, órgãos e funções,
ganha ritmos e rotinas, ganha o nosso amor.
Ganhamos prioridades, tanto nas filas como na vida…
E quanto mais tempo passa, melhor nos vamos conhecendo.
Passamos a não nos sentimos nunca sozinhas, por mais estranho que isso
pareça a quem está (literalmente) de fora.
Somos dois em um, unidos por um cordão de amor.
Até àquela altura, em que chegamos a casa
depois de um dia de trabalho e já enormes (os dois),
nos sentamos, ansiosamente, no sofá preparadas
 para mais uma grande aventura.
Esticamos as pernas, descansamos os tornozelos, relaxamos e aguardamos.
Entregamo-nos de corpo e alma àqueles instantes privados e preciosos.
Começamos por não perceber muito bem o que está a mexer.
É a mão?! É o cotovelo?! Mais tarde identificamos, de olhos fechados,
 com que parte do corpo o nosso filho nos saúda.
Tornamos essa prática num hábito e até num vício.
Sabemos quantas vezes se mexe, quando se mexe e porque se mexe.
 E quando não se mexe, é motivo suficiente para nos levar, quase sempre desnecessariamente,
a ligar ao obstetra e muitas vezes até mesmo ao hospital.
Depois aprendemos alguns truques, graças às ecografias,
como um rebuçado ou um chocolatinho… para adoçar os movimentos do nosso bebé
 e acalmar o nosso espírito.
E mais extraordinário ainda é conseguirmos antecipar que ele se vai mexer!
«- É agora!
– Como sabes?
– Não sei. Simplesmente sei!»
Começamos por descobrir que depois da nossa agitação, vem a dele.
Que sente se estamos nervosas, excitadas, felizes ou tristes.
Que acompanha o nosso estado, certo que muitas vezes com delay, mas acompanha.
Se paramos ele mexe, se nos mexemos, ele pára.
Descobrimos que gosta de música e que até já tem alguns pratos preferidos.
E que ouve a nossa voz. E a do pai. E que o conseguimos acalmar.
Sentimos mesmo que, às vezes, ele parece tentar tocar nas nossas mãos…. e no nosso coração.
Damos festas e mais festas impossíveis de contabilizar.
Aliás uma grávida sem a mão na barriga, não é uma grávida.
Quase no fim é incómodo.
O espaço é pouco e o bebé já se sente nos sítios mais estranhos
como nas costelas, bexiga e, diria até, no esófago.
Espreguiçam-se, mudam de posição e entram numa luta contra os nossos órgãos
 por mais um pedaço de território.
Às vezes colocam-se só num lado, outras espalham-se por todo o lado.
Também há os soluços que dão uma enorme vontade de rir
 e a parte chata de fazermos xixi de 5 em 5 segundos.
E quase sempre tanto trabalho por um pingo.
Tira-nos a respiração, a posição e as noites bem dormidas.
Até que, depois da gravidez, já sozinhas, e ao mínimo movimento
 no nosso estômago, lembramo-nos daqueles tempos
e, – algumas – saudosas da parte boa, concluímos:
Podíamos ter ficado só assim… Um do outro para sempre!”

Rita Ferro Alvim

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