Doce mas não tanto.

Tempo de leitura: 3 minutos
Nem sabia bem como começar este post sem me meter em alhadas. 
Reescrevi várias vezes o título, porque ali temos de ser sintéticos e interessantes, ao mesmo tempo, o que, às vezes, resulta em polémica e chama anónimos menos doces.
“O pior de mim na maternidade”, “Pior pessoa depois de ser mãe”, “Doce até ser mãe”… não eram títulos aceitáveis. 
Não explicavam o que eu queria dizer, no seu todo, e habilitava-me a palavras menos simpáticas…
Deixei então o título em branco para ver onde me iriam levar as minhas palavras. [Os melhores títulos às vezes acontecem no último parágrafo.]
Mas uma coisa era certa não podia juntar mau e maternidade no mesmo espaço ou iria correr o risco de ser mal interpretada. {Já basta a ousadia do Socorro! Sou mãe…}
Mas voltando ao início.
O meu marido estava a dizer-me que eu era “toda doce”. (Bem espero que isto não entre demasiado na nossa intimidade mas não era no contexto que estão a pensar.. ;)) E saiu-me logo um: “Era… Agora, desde que sou mãe, já não sou assim tão doce…”
E fiquei triste a pensar nisso. Mas que raio mudou em mim para eu já não me sentir assim tão doce!?
Mas não é possível ser mãe e doce ao mesmo tempo?
Estaria a minha doçura toda reservada para a minha família nuclear [e essa também leva com o meu eu menos doce] e a escassear em geral?
Bem, para além da responsabilidade, do trabalho, da falta de tempo, da casa por arrumar, das questões monetárias, de ralhar e de ter sido um bocado tramada por ser doce demais, nada de maior me aconteceu.
Aliás, sou muito mais feliz do que o era quando era só “doce”. 
E isso pode querer dizer alguma coisa.
Mesmo assim perguntei-me se não daria para conciliar tudo e voltar a ser doce como era antes.
Concluí que isto não era necessariamente mau. 
Porque agora sou mais verdadeira. Sou suficientemente segura para dizer que não. 
Agora revelo muito mais de mim. Agora digo o que sinto por mais que me custe.
Do que gosto ou não. Do que quero ou não. Se me magoaram ou não. 
O estar a ser doce antigamente era, às vezes, anular-me. Deixar que me fizessem 30 por uma linha (e se fizeram) e ali estava eu com um sorriso e não ser 100% verdadeira ou corajosa. Era alguém que não dizia toda a verdade. 
Agora quando não gosto ou me sinto injustiçada já não sou só doce. Já não consigo ser doce. Tenho dias maus, dias de cansaço, e sei exprimir-me quando me fazem mal ou aos meus. Não fico bem quando e, por isso, não posso esconder.
E, melhor que isso, sei escolher o que deixo entrar na minha vida, na minha intimidade, no meu mundo.
Agora digo logo o que sinto. Por muito que me custe digo.
E mesmo que, às tantas, desista das palavras [porque há palavras que não inúteis] quem me magoa vai claramente perceber a minha mudança pelas minhas ações. Ou falta delas.
E apesar da maternidade me ter dado as três maiores doçuras do mundo, e eu ter descoberto em mim o sítio mais doce do coração, também me trouxe uma vida de maiores provas, sacrifícios e desafios e por isso mais assertividade. E isso nem sempre é doce.
Quero continuar a procurar o melhor de mim, [sempre!!!], mas sei que, às vezes, isso não é possível, nem é bom. Tenho de filtrar, afastar o que está mal e rodear-me do que me faz bem. 
Porque sou mãe, mulher, adulta, profissional.
E porque tenho em mim um instinto novo de proteção e de responsabilidade que nem sempre me permite ser doce. Talvez esta característica venha camuflada nas hormonas, que seja necessária à condição de ser mãe.
Mas sou, com certeza, mais verdadeira.
[Quanto ao título, nunca seria um bom título…]

6 thoughts on “Doce mas não tanto.

  • Eu que a conheço acho-a um doce. Mas ainda bem que está mais forte porque as pessoas têm a tendência de abusar das doces.
    Um beijinho com todo o coração.
    Adorei o texto.

  • A minha experiência diz-me que quando nos tornamos mães colocamos tudo em perspectiva. E passamos a valorizar ainda mais o bem precioso que é o tempo. E passamos a ser mais aquilo que queremos que os nossos filhos sejam. Daí que temos que filtrar muito bem o que (e quem) temos na nossa vida e o que é ou não aceitável.
    Passamos a ter muito mais paciência e tolerância para umas coisas e menos para outras.

  • Rita, mais uma vez um texto que podia tão bem ter sido escrito por mim 🙂 revejo-me em cada parágrafo. Também já ouvi o mesmo do meu maridão e também já dei por mim a pensar que talvez não fosse mau não ser tão, tão doce como era 😉 a vida, a idade e, principalmente, os filhos põem tudo em perspectiva. Agora há coisas que não troco por nada, há fretes que não faço por nada e sinto-me mais feliz que nunca!!! Continue assim! Nós, fofinhas, cá estaremos :-))))) bjs

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