Cresci com esta premissa. Ninguém falava de dinheiro lá em casa. Os ordenados eram tabu, as rendas da casa, o preço da escola, as despesas, os prémios… Acho que era comum nas gerações acima. Não ousava perguntar nada o que tivesse a ver com isto. Lembro-me até de, se me faltava algum dinheiro para algo, ficava calada com vergonha de pedir mais. Talvez por isso, tenha começado a trabalhar tão cedo e a ser independente.
Não queria depender dos meus pais para comprar umas calças de ganga ou ir dar uma volta.
Aos 16 comecei a fazer aqueles trabalhos de hospedeira e raramente os chateei a pedinchar algo que queria. Essa liberdade foi maravilhosa. Fiz de tudo. Cheguei a lavar tachos. Tinha sempre trabalho, porque também não me acanhava de fazer o que quer que fosse. Legal, óbvio. 😉
Mas a sensação de que não se devia falar de dinheiro persistiu até aos dias de hoje.
Sou mesmo má neste campo. Não gosto de fazer orçamentos, de negociar e odeio cobrar.
Quem trabalha por conta própria (e tem a saga do IVA) tem de ser muito rigoroso. Porque podemos estar a pagar IVA de trabalhos que ainda não recebemos. Isto é uma dor de cabeça enorme.
E eu sou um zero à esquerda em números.
Para poupar umas massas, e porque tenho um marido genial, nunca fiz contabilidade organizada. Como tal ando sempre cheia de papelinhos e sempre em sobressalto que me falhe alguma coisa. E depois ele ajuda-me na entrega de todas as coisas chatas.
Para poupar umas massas, e porque tenho um marido genial, nunca fiz contabilidade organizada. Como tal ando sempre cheia de papelinhos e sempre em sobressalto que me falhe alguma coisa. E depois ele ajuda-me na entrega de todas as coisas chatas.
Após quase dois anos de ter dado a cara por uma campanha grande, que me limitou outros trabalhos e me ocupou muito tempo, vi-me forçada a pôr um processo a uma empresa que ainda não me pagou. Adiei muito, tentei que fosse tudo a bem, para evitar falar de dinheiro, refilar e de me bater sempre com esta sensação estranha deixada por esta educação comum na altura.
Ia dormir à noite com algum desconforto e intranquilidade quando a minha parte tinha sido toda cumprida. Não faz sentido!
Ia dormir à noite com algum desconforto e intranquilidade quando a minha parte tinha sido toda cumprida. Não faz sentido!
Vou querer fazer diferente com os meus filhos. Não quero que se sintam mal por serem pagos por trabalhos que fizeram, por saberem que impostos e contas não se acumulam, que devemos ser rigorosos na nossa gestão orçamental e que não é vergonha nenhuma falar de dinheiro.
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